domingo, 8 de outubro de 2017

A GHOST STORY, 2017 (ainda sem título em português) De David Lowery

A GHOST STORY, 2017
(ainda sem título em português)
De David Lowery


Homem morre em acidente de carro e seu fantasma (de lençol branco e tudo!) volta para casa. Trivial, não?! De modo algum. Cativante, emocionante, provocante.

Simplesmente o que vemos é sob o ponto de vista do fantasma. O filme foi fotografado como uma foto polaroide antiga (quadrado!), com uma aspecto meio retrô, o que dá uma sensação meio opressiva. As longas sequências paradas e mudas contribuem para um sentimento de “paralisia” de vazio. A passagem do tempo angustia o espectador que começa a experienciar o desespero e solidão do fantasma, agarrado ao lugar, enquanto moradores vêm e vão até a derrubada da casa e construção de um edifício comercial no lugar. Tem mais coisa aí, tá?! Vale a pena.

A história não tem diálogos significativos, exceto o da sequência da festa. É uma experiência visual, psicológica, sentimental, mais do que intelectiva.

Para mim, que amo cinema oriental, parece que o diretor se inspirou no ritmo, profundidade psicológica e melancolia oriental.

Mas advirto: se você dorme em filmes parados, não assista! Se você espera um filme com respostas, conclusões, não assista. O filme é sensorial, simbólico.

Bom filme!

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

TRILOGIA DO “ANTES”: ANTES DO AMANHECER [Before Sunrise, 1995] ANTES DO PÔR DO SOL [Before Sunset, 2004] ANTES DO ANOITECER [Before Midnight, 2013] De Richard Linklater

TRILOGIA DO “ANTES”:
ANTES DO AMANHECER [Before Sunrise, 1995]
ANTES DO PÔR DO SOL [Before Sunset, 2004]
ANTES DO ANOITECER [Before Midnight, 2013]
De Richard Linklater


A trilogia do “Antes” é um romance bastante filosófico, existencialista, verborrágico que inicia em 1995. Jesse e Celine se conhecem e se atraem mutuamente em um trem na Europa e Jesse a convida para desembarcar em Viena para um passeio despreocupado que vai da tarde, entra pela noite e termina de manhã, quando Celine seguirá para a França e Jesse voltará para os Estados Unidos.

A história continua em 2004 com Jesse, visitando Paris para lançar seu livro que conta a história deles dois, reencontrando Celine, que vai à livraria onde ele está autografando a obra. Como ele tem uma hora e meia (o tempo real do filme!) até seu voo partir, ele e Celine saem para um passeio pelas ruas em mais uma viagem filosófica, mas com um tom bem mais sentimental e intimista.

Em 2013, Jesse e Celine são pais de gêmeas, fruto da relação que eles tiveram em 2004 sem proteção e moram em Paris. Jesse separou-se da esposa e tem a consciência pesada em relação ao filho que mora nos Estados Unidos com a mãe. Nesse filme o tom é mais intimista, de DR mesmo, e aborda os problemas que um relacionamento desenvolve ao longo de anos: frustrações, mágoas, arrependimentos, cobranças.

O foco é só nos dois atores/personagens Ethan Hawke (Jesse) e Julie Delpy (Celine). De fato, nos dois primeiros nem há outros personagens, a interação é só entre eles.

Observe o hiato de nove anos entre cada filme o que confere um tom de realidade à história.

Legal observar a evolução da relação deles: O primeiro momento é jovial e despreocupado em que buscam se conhecer por dentro e por fora; Segue-se a retomada de algo tão marcante que não podia ser perdido; Terminando com a realidade às vezes pouco agradável de uma relação concreta. E não é assim conosco também!

Já vou avisando: É um romance para pensadores, para adultos que já passaram por algum tipo de situação com a qual podem criar a necessária empatia que não tornará o filme “chato”. Se você não tem o perfil, não assista! Vai acabar falando mal de uma série que amo.

Citando Celine no primeiro filme “Se há algum tipo de mágica no mundo, deve estar na tentativa de compreender alguém, de partilhar algo. Eu sei que é quase impossível ter sucesso, mas quem se importa, realmente? A resposta tem que ser a tentativa.”

Bom filme!

DRIVE [Drive, 2011] de Nicolas Winding Refn

DRIVE
[Drive, 2011]
de Nicolas Winding Refn



Um filme de ação e violência com ternura. Interessante mistura, não é?!

Ryan Gosling trabalha como motorista dublê de cenas perigosas em filmes e também em uma oficina mecânica. Disponibiliza-se vez por outra como motorista de fuga para crimes, em que participa só dirigindo.

O personagem não tem nome, não tem passado nem história. Percebemos nele um certo nível de autismo por seu comportamento introspectivo, frio, extremamente focado e metódico. Também podemos observar que o dono da mecânica onde ele trabalha que o agencia para todos os seus serviços exerce um tipo de figura paterna para ele.

Dentro desse personagem "vazio" vai nascer um sentimento puro por sua vizinha (Carey Mulligan) e por seu filho pequeno. Eles vão se aproximar de modo que, mesmo com a liberação do marido dela da prisão, o motorista permanecerá por perto. Seu sentimento por ela e pelo menino será tão grande que ele enfrentará um roubo mal sucedido de dinheiro de gangsters poderosos e a perseguição deles para ajudá-los.

O título em português é o mesmo do inglês, o que para uma pessoa que não saiba inglês não faz sentido algum. "drive" significa "dirigir, dirija", mas também significa "motivação". O título em inglês capta a ambiguidade do personagem que dirige e que se motiva por algo mais altruísta, nobre e, por que não dizer, sentimental do que aquilo que faz normalmente.

Se gosta de ação, o filme não desaponta. Mas há mais para os pensadores que me leem.

Bom filme!


quinta-feira, 5 de outubro de 2017

O SONHO DE WADJDA [Wadjda, 2012] de Haifaa Al Mansour

O SONHO DE WADJDA
[Wadjda, 2012]
de Haifaa Al-Mansour


Minha mãe dizia: “Ou bem lido, ou bem corrido”. No meu caso, foi bem lido e bem “assistido”. Essa foi a minha maneira de conhecer o mundo, paisagens e culturas.

As culturas diferentes da nossa são fascinantes e, às vezes, um pouco assustadoras.

Imagine se você, menina, quisesse uma bicicleta e não pudesse ter. Não por conta de dinheiro, mas por regras da cultura do seu país que proibissem mulheres de andar de bicicleta.

O pior é que isso é verdade mesmo, na Arábia Saudita, onde inclusive não há cinemas.

Este é o mote do filme: Wadjda é uma menina de 11 anos, árabe, muçulmana que só quer uma bicicleta. Ela tenta levantar dinheiro para comprar a bicicleta com pequenas vendas e favores até que descobre que há um bom prêmio em dinheiro em uma competição de recitação de versos do Alcorão.

O interessante aqui é a percepção da condição da mulher naquela sociedade. A mãe da menina também se sente oprimida uma vez que o marido está para tomar uma segunda esposa pela incapacidade dela de gerar filhos e ele só ter uma menina.

Acho que o mais legal mesmo é saber que “o” diretor é uma diretora e que ela é árabe e sabe bem do que está falando!

Leia esta entrevista da diretora ao jornalista Miguel Barbieri Jr. da Revista Veja: 


O filme é bem positivo e mostra o enfrentamento de situações culturais pré-definidas.

Bom filme!

terça-feira, 3 de outubro de 2017

CÓPIA FIEL [Copie Conforme (Certified Copy), 2010] de Abbas Kiarostami

CÓPIA FIEL
[Copie Conforme (Certified Copy), 2010]
de Abbas Kiarostami


Um Romance? Uma DR? Um ensaio filosófico sobre um relacionamento afetivo, sobre pontos de vista?

Você vai decidir!

Não há muito o que dizer, o filme é uma experiência que você deve vivenciar.

Claro que o contexto só fará pleno sentido se você for adulto e já tiver passado por alguns relacionamentos e se doado a eles a ponto de discuti-los, caso contrário, você não "vestirá" essa obra de arte do premiado diretor iraniano.

O mote do filme é: Um escritor britânico está na Toscana, Itália para divulgar seu novo livro "Cópia Fiel" em que discute que a cópia (falsificação) de uma obra de arte tem seu valor intrínseco e não deveria ser vista como inferior ao original. Chegando atrasada à assistência, com seu filho adolescente, Juliette Binoche (cujo personagem não tem nome!!), uma vendedora de antiguidades, vai marcar um encontro com o escritor, no mesmo dia. Ela o leva a um passeio sem objetivo específico pela região, discutindo de início o tópico do livro até que a filosofia existencialista vai tomando conta.

Binoche cuja beleza e talento dispensam apresentações é o centro de tudo. Observe a significância contextual de sua articulação em inglês, a língua dele, depois em italiano e francês.

Ah! não há outros "atores" o filme é só deles dois.

Importante, não assista se você não for uma pessoa dada a pensar, refletir, filosofar e sentir dentro de um relacionamento amoroso (?). O filme é muito simbólico.

Depois você me conta o que achou!

Bom filme!

domingo, 1 de outubro de 2017

AMALDIÇOADA [Brimstone, 2016] de Martin Koolhoven

AMALDIÇOADA
[Brimstone, 2016]
de Martin Koolhoven


Minha esposa costuma dizer que mulher só se fo%&@.

Taí mais um filme que mostra isso!

Dakota Fanning é uma mulher muda que vive em uma fazenda na época do velho oeste americano com o marido e uma filha pequena. Um dia na igreja local ela reconhece um fantasma do passado no pastor local. Logo veremos que esse pastor veio atrás dela por algo que ela teria feito a ele.

Como ela é parteira, a perseguição a ela inicia com um parto mal-sucedido na igreja, após a missa. Aparentemente isso desencadearia tudo, mas há mais na história dela. Assista!

O filme é segmentado em quatro capítulos: Revelação, Êxodo, Gênese e Retribuição. Sendo o terceiro o início de tudo (óbvio!), o segundo a sequência do terceiro (óbvio também!) e o último a continuação do primeiro.

É mais que um filme feminista, ele trata do poder cruel que um grupo/indivíduo exerce sobre outro. Embora se passe no século XIX, ou antes, é atualíssimo.

Deixo para você refletir a respeito das coisas que os homens fazem usando o nome de Deus que se apresentam no filme.

A mudez da personagem é metafórica para a voz sufocada do oprimido.

O título em português é interessante, pense nele depois que vir o filme. Por que ela é/está amaldiçoada? O em inglês faz referência ao “lago de fogo e ENXOFRE (brimstone)”, o inferno.

Sem estragar o seu filme, esteja preparado para um drama denso e impactante.

Bom filme!

PAIS E FILHOS [そして父になる Soshite Chichi ni Naru (Like Father, like Son), 2013] de Hirokazu Koreeda

PAIS E FILHOS
[そして父になる Soshite Chichi ni Naru (Like Father, like Son), 2013]
de Hirokazu Koreeda



Sou suspeito no que diz respeito a cinema oriental (japonês, coreano, chinês, tailandês...), pois eu AMO!

Eles são excelentes contadores de histórias e, contrariamente à sua sociedade fechada, rígida e pouco afeita a sentimentos, me emocionam sempre.

Hirokazu Koreeda é um diretor cujos filmes são tediosos para os que não sabem apreciar seu estilo narrativo, bem japonês, suave, como uma dança lenta. Não há geralmente términos altamente climáticos, com desenlaces surpreendentes. Tudo flui, vagarosamente, como um riacho em uma floresta silenciosa.

"Pais e filhos" mostra uma situação inusitada: se você descobrisse que seu filho de seis anos foi trocado na maternidade?

Ryota é um típico japonês cujo foco é o trabalho e o sucesso. Frio, não é capaz de enxergar os sentimentos e necessidades de sua esposa e filho. Exige que seu filho seja um "vencedor", obriga-o a estudar música a dedicar-se aos estudos, cobrando-o e a sua esposa. Um dia é informado pelo hospital que seu filho de seis anos não é seu filho, mas de outra pessoa e que seu filho verdadeiro está com outra família e a criança que cria é dessa família.

No encontro e contato com a família de Yukari e Yudai Saiki, de uma cidade interiorana, que cria seu filho de sangue, Ryota vai aprender o valor do carinho, atenção e dedicação que ele deve dar à sua família.

No cartaz, dá pra perceber quem é Ryota... o mais sério, vestido sobriamente e o outro casal que é mais alegre e afetuoso com os filhos.

Se você é pai TEM QUE assistir a esse filme.

Se é filho e é/foi cobrado demais por seus pais TEM QUE assisti-lo.

Se não é, como é o meu caso, vai tocá-lo de qualquer modo, pois fala de rigidez de personalidade versus simplicidade de viver. Fala do que é importante na vida: a alegria de estar junto.

Bom filme!